Kelly Jenyfer – @kellyjenyferjornalista

No programa Brasília Notícias de terça-feira (23), o grupo de artistas indígenas Kaingang e Guarani Nhandewa, incluindo Fiiko Nhandewa, Eliane Nhandewa, Solivan Fenenh Kanhgang e Isabel Tukana, participou da edição para discutir a parceria com o DJ Alok no álbum “O futuro é ancestral” e as lutas no Acampamento Terra Livre 2024. A entrevista foi conduzida pela jornalista Nayá Tawane.

Fiiko Nhandewa descreve o processo que levou à participação deles na criação do álbum “O futuro é ancestral” com o DJ Alok. Segundo Fiiko Nhandewa, tudo começou durante o manifesto do Levante Pela Terra.

“Passamos um mês em Brasília lutando pelo marco temporal que tem impactado nossos direitos. Tivemos a oportunidade de subir no Congresso Nacional para reivindicar nossos direitos, e uma das lideranças soltou uma frase que chamou a atenção do Alok e teve grande repercussão. Começamos como um grupo de 70 pessoas lutando contra muitos por mais de 10 dias, e de repente esse grupo cresceu para milhares”, compartilha.

Fiiko Nhandewa expressa sua gratidão pela colaboração na criação do álbum com o Alok. “Tudo isso é um sonho dos povos indígenas. O DJ Alok abraçou nossa causa vestindo a camisa da nossa luta. Fico sem palavras para descrever isso. Estou emocionado com tudo o que está acontecendo. O Levante Pela Terra foi marcante e ficará para a história”, enfatiza.

Solivan Fenenh Kanhgang comenta sobre as letras do álbum “O futuro é ancestral” do DJ Alok. Ele menciona que as letras abordam tanto a retomada quanto a guerra, pois os cantos dos povos indígenas estão relacionados à luta. “Um dia antes do show, estávamos nervosos durante o ensaio, mas no dia do show nos soltamos mais. Foi uma experiência muito positiva e deu tudo certo”, relata.

Eliane Nhandewa, que está na linha de frente da luta das mulheres indígenas, destaca a importância dessas lutas para garantir seus direitos. “Estamos vivendo em uma sociedade muito crítica e, nesses movimentos, buscamos os direitos das mulheres indígenas”, afirma.

Eliane, que está acampada no Acampamento Terra Livre, menciona que todos os anos participa dessa luta com o objetivo de mostrar à sociedade a força das mulheres indígenas. “Temos que lutar pelos nossos filhos e continuar a luta dos nossos ancestrais”, acrescenta.

A coordenadora geral do Levante pela Terra, Isabel Tukana, que também está na linha de frente da luta das mulheres indígenas, relata que antes da chegada dos 70, ela já havia tido conversas no estado. “Estávamos indo lutar contra a PL 490, que era uma proposta de lei genocida de um governo passado. Tínhamos poucos dias para mostrar a todos os povos indígenas o impacto que esse projeto de lei causaria não apenas para os povos indígenas, mas também para a sociedade em geral”, relata.

Isabel Tukana relembra que a PL 490 teria impactos na água, no solo, nos remédios, nos alimentos, além dos territórios que os povos indígenas poderiam perder. “Tudo isso aconteceu em meio à pandemia, quando Brasília estava sob protocolos de segurança da Covid. Então, nosso pensamento era que, se fôssemos morrer, iríamos morrer lutando e não dentro de casa, pois nossos filhos precisariam ficar e não sabíamos por quanto tempo. No dia da votação, conseguimos barrar e nosso primeiro triunfo foi esse”, afirma.

A coordenadora geral do Levante pela Terra, Isabel Tukana, enfatiza que o álbum com o DJ Alok foi de suma importância. “Esse álbum não é apenas música, ele carrega um significado de luta, fortaleza, conforto e a segurança de estar ao lado dos meus parentes, sabendo que estamos na mesma luta por nossos filhos para derrubar essa proposta de lei genocida”, diz.

Tukana reforça que o acampamento Terra Livre está aberto para que todas as pessoas possam conhecer os mais de 200 povos indígenas, com seus costumes, alimentos, modos de cantar, vestir e idiomas diferentes.

“Estamos recebendo doações de alimentos, água, roupas, lonas, barracas, colchonetes e doações de todo tipo. Há pessoas no acampamento há mais de 15 dias. Temos crianças, então quem quiser oferecer oficinas para elas, todos são muito bem-vindos a essa troca de saberes. Venham somar conosco nessa luta para que vocês entendam o motivo de estarmos ali. Não estamos em Brasília a passeio”, enfatiza.

Confira todos os detalhes desta entrevista na íntegra: 

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