Kelly Jenyfer – @kellyjenyferjornalista

Transmitido ao vivo na terça-feira (12/03), o programa Povo Negro, ancorado pelo influencer digital Wallace Neguerê, falou sobre o Projeto Oníbodê, com o convidado Ogan Luiz Alves, repórter-fotográfico, que teve autorização para registrar momentos em terreiros e ações da religião de matriz africana. Esse programa é uma parceria da TV Comunitária com a Secretaria de Cultura e Economia Criativa, da 4ª Edição do projeto Brasília Mostra Sua Cara e Cultura.

O repórter-fotográfico Ogan Luiz revela que sua carreira como fotojornalista na comunidade afro-religiosa de Brasília teve início em 1989, trazendo consigo um prêmio nacional e experiência no movimento negro. “Fotografei no estado do Rio de Janeiro, em Volta Redonda, Barra Mansa e Resende. Ao chegar aqui, conheci o Centro Espírita do Pai Jorge de Oxossi, onde passei um ano e meio frequentando a casa e comecei a documentar a comunidade”, menciona.

Ogan Luiz compartilha que o Projeto Oníbodê é um sonho que aos poucos está se concretizando. Ele menciona que em 2007 começou a fotografar exclusivamente para si mesmo, buscando uma abordagem diferenciada. Segundo o fotojornalista, a fotografia é um investimento significativo. “Uma lente para a minha câmera custa atualmente entre 12 e 16 mil reais”, revela. 

O fotojornalista expressa que atualmente as pessoas não reconhecem sua habilidade profissional, mas sim o equipamento que utiliza. Ele destaca que a maior ofensa a um profissional de imagem é atribuir uma boa foto apenas à qualidade da câmera. Ele compara essa situação a elogiar um renomado chef de cozinha dizendo que a comida estava deliciosa devido à qualidade da panela em que foi preparada, desconsiderando todo o estudo e habilidade do chef. “É como se eu chegasse para um chefe de cozinha renomado e falasse que a comida estava gostosa por conta da panela boa que a comida foi preparada, ou seja, o tempo que ele passou estudando não vale de nada”, lamenta. 

Ogan Luiz destaca que atualmente há um desrespeito significativo em relação aos profissionais de imagem. Ele menciona ter presenciado casos em que pessoas cadastraram um projeto no FAC (Fundo de Apoio à Cultura) e, posteriormente, alegaram ter esquecido de incluir o fotógrafo, mesmo sendo a única coisa que permanecerá no projeto a imagem, o registro. “Em casamentos, por exemplo, a única coisa que será eternizada são as imagens, pois os doces e o bolo vão descartados no dia seguinte”, exemplifica. 

Ogan Luiz compartilha que muitas vezes, mesmo após gastarem uma quantia considerável em diversos aspectos, as pessoas tentam negociar os serviços do fotógrafo. Ele menciona ter testemunhado casamentos nos quais os fotógrafos foram proibidos de se alimentar no local, fazendo longas horas de trabalho sem nenhuma refeição. Ele enfatiza a falta de consideração com a equipe de fotografia em eventos como esses.

Ogan Luiz destaca que a concessão de terras em áreas públicas do Distrito Federal para igrejas cristãs tem sido objeto de debate. Ele aponta que, nesse processo, as igrejas evangélicas foram beneficiadas, enquanto os terreiros de candomblé e umbanda foram excluídos desse apoio. Ele expressa a crença de que essa disparidade não se deve apenas ao preconceito, mas também a uma influência do governo por grupos fundamentalistas, resultando na interrupção de iniciativas que beneficiariam a comunidade afro-religiosa.

Ogan Luiz diz ainda que no terreiro não existe o dízimo instituído. “Nós não temos a teologia da prosperidade, nós acreditamos que o Orixá vai nos dar o caminho para conseguirmos chegar até onde ele precisa, isso é diferente. Ele vai dar força e abrir o caminho onde eu vou ter que trabalhar para eu chegar onde eu tenho que chegar. Isso é religiosidade, agora o comércio já é uma outra situação onde quem der mais recebe mais, é um Deus corrupto? Que vai dar a bênção de acordo com a oferta?”, questiona o convidado da edição.

Ogan Luiz destaca que nos terreiros de candomblé e umbanda não há a prática do dízimo instituído e nem a teologia da prosperidade. “Na religião de matriz africana, a crença é de que os Orixás fornecerão o caminho para alcançar o que é necessário, dando força e abrindo oportunidades para que o indivíduo trabalhe e alcance seus objetivos”, diz. O convidado da edição questiona a lógica do comércio que associa a oferta material à bênção divina, levantando a reflexão sobre um suposto “Deus corrupto” que concederia bênçãos de acordo com a quantia oferecida.

Acompanhe o trabalho do fotojornalista nas redes sociais: @afroluiz 

Confira este bate papo completo aqui: 

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