Por: Beto Almeida

Estimados amigos, com um saludo, abordo o quadro bastante complexo e bastante desfavorável para a esquerda, no que se refere à sofisticada alienação/ manipulação organizada pelo capital, com efeitos muito destrutivos sobre parte da juventude.

Estou acompanhando os preparativos, pela TV, para a inauguração do Rock In Rio. Há verdadeiros absurdos nisto.  Montaram uma imensa cidade para 100 mil pessoas / dia, com vários palcos, um deles reproduzindo uma Favela, o que é doloroso para os funcionários que aí vão trabalhar.  As instalações de água, eletricidade, cobertura, pavimentação, som, iluminação, transporte redirecionado para a Barra, aquilo que falta no dia a dia para os moradores, tudo isto é um grande escárnio para um país que possui uma imensa dívida cultural com o seu povo. E tudo se monta  rapidamente. Os ingressos são caríssimos, do predomínio é de bandas de língua inglesa, o samba , o nosso samba pouco espaço terá.

Neste período crescem os assaltos porque a juventude mais empobrecida quer ir de qualquer jeito, há uma publicidade agressiva e os ingressos muito caros. Como no Maracanã, que a Dilma acabou com a Geral, ingresso barato, e embranqueceu as arquibancadas, pois hoje futebol tem preço de teatro. Levas de jovens virão da Europa para esse Rock in Rio, que indica uma padronização cultural do império para moldar o mesmo ritmo, o mesmo tipo de harmonia, o mesmo toque, esmagando a indispensável pluralidade  e diversidade culturais.

Ali tem a segurança que falta ao povo, tem a água e o esgotamento sanitário que falta nas favelas e nos bairros humildes, ali tem eletricidade que o povo só alcance quando faz um gato.  É uma baita injustiça, e uma alienação gigante, porque mal se consegue uma análise crítica sobre o que este empreendimento implica em sonegar de ações tão necessárias ao povo.

O papel da mídia, especialmente da tv, mas não só, é altamente destruidor neste modelo.

Praticamente hoje se divulga esmagadoramente a música de um certo estilo chamado indevidamente de sertanejo, mais apropriado seria chamar de estilo musical agronegócio, pois é uma atividade rica, capitalista, nada a ver com a cultura caipira, na sua singeleza poética e humanista.

Outro elemento de alienação e manipulação, que conduz a juventude para uma perda de sensibilidade, para uma inversão de valores e para uma tolerância com a violência é este culto à luta de MMA. Uma multidão de jovens desperta de madrugada para ver um sujeito esmagando a cara do outro, alguns morrem, e isso tudo, todas esta atividades , são acompanhadas com uma overdose de cerveja, quando não de outras drogas mais pesadas. Um juventude hipnotizada por esta cultura rebaixada torna-se incapaz de raciocinar sobre temas sociais e políticos, inclina-se para a violência , rejeita o diálogo, tem dificuldade de entender Revoluções como em Cuba e na Venezuela, aceita sem questionar o que diz a mídia sobre o bolivarianismo, não admite uma conversação, não se dispõe a buscar informação, dá como verdeira a avalanche de mentias despejada pela TV Globo contra Venezuela, Irã, Putin etc.

O quadro exige grande empenho da esquerda na organização de uma mídia transformadora, numa cultura libertária, na priorização do debate política e cultural inteligente , interessante, sem burocratismo, sem xaropada stalinista. Ou seja, uma tarefa nada fácil, mas absolutamente imprescindível de ser fazer.

Beto Almeida é jornalista, repórter e diretor da TV Comunitária

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